Terapia com os pés…

…e eu tinha me esquecido como sapatear é bom!

Fico me perguntando afinal porque eu decidi parar de fazer uma coisa que eu definitivamente amo e sempre amei fazer? Os responsáveis por isso são os terríveis comportamentos e surtos adolescentes que só tumultuam e perturbam nossa vida! Desabafos à parte, parece que agimos de propósito com a gente mesmo, escolhemos os caminhos mais errados, mais difíceis só pra termos que percorre-los várias e várias vezes até finalmente encontrarmos o verdadeiro caminho…e foi numa dessas idas e vindas que escondidos, atrás de algumas pedras, eu reencontrei meus sapatos de sapateado.

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Foram quase dez anos que meus sapatos esperaram por mim até o dia desse reencontro. Só de pensar quantas topadas eu teria evitado se não tivesse ficado com preguiça de simplesmente remover essas malditas pedras do meu caminho!  A primeira vista tanto eu quanto eles já não estávamos mais com aquele vigor jovial mas, ao colocá-los novamente, sentimos que a velha parceria continuava viva e pq não recordar os velhos tempos, renovar os novos e colocarmos os pés em dia?

Eu lembro como se fosse hoje as aulas lotadas da academia UNIC com a professora e mestra Pat Thibodeaux.Como eu era uma garotinha naquela época enxergava as coisas com outras proporções e sentia uma extrema necessidade de me fazer notar diante de tanta gente. Para o orgulho da professora eis que se tinha uma menina prodígio e talentosa e para o ódio dos adultos, quem era essa pirralha que além de ficar na nossa frente acertava todos os passos?

E os sapatos de verniz de boneca da Capézio? Eu tinha uma colega que era muito, muito rica, morava num daqueles prédios imensos na Lagoa ( como eu disse naquela época aos meus olhos as proporções eram outras) que tinha todos os modelos desse sapato. Ela chegava na aula com aqueles pés brilhando e eu não conseguia tirar os olhos dele. As mães ficavam desesperadas, pois custavam uma fortuna, mas como não nos preocupávamos com a situação financeira dos nossos pais, era vergonhoso entre as meninas da minha idade não ter pelo menos um modelo daqueles. Eu tive o meu  e depois percebi que o sapato nem era tão bom assim.

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Foram as festas de fim de ano da academia que me apresentaram aos palcos e com elas adquiri muita experiência e intimidade com eles. Eu posso dizer que o sapateado, além de sua função como dança, desenvolveu outras habilidades que, mesmo sem a pratica, continuaram presentes em mim: ritmo, percepção, atenção, coordenação motora, noções de espaço, musicalidade entre outros.

São tantas as lembranças dessa época  que certamente renderiam na minha biografia um bom capítulo, mas com um final não muito animador. Com o fim das academias de dança que não resistiram ao novo modismo do culto ao corpo das academias de ginástica, eu pendurei meus sapatos e me joguei na malhação. Ficar sarada com coxão e bundão era tudo de bom… – Que idiota!

Diante desse final triste destinado ao sapateado houve aqueles que não se renderam aos ferros e seus efeitos e que verdadeiramente amavam, respeitavam e admiravam esta arte, como Flávio Salles e sua Academia do TAP ( link do site nas indicações da Chimpa! ). A academia mantém seu prestigio por ser a única escola especializada que realmente ensina o sapateado norte americano. Não desmerecendo as outras escolas, mas só quando vc fizer uma aula entenderá o que estou dizendo.

E para minha surpresa fui parar numa turma onde, digamos assim, 70% dos alunos não se pareciam nenhum pouco com aqueles das saudosas academias. A minha sogra, que também faz essa aula, no pé da orelha me disse: Sabia que a Maria tem 70 anos? Ela é a nossa vó! E não é que ela faz tudo direitinho e ainda tem um sapato todo branco? Abusada!

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Os meus novos colegas são simplesmente incríveis e que bom que os encontrei pelo meu caminho junto com meus sapatos. Talvez eles tenham aparecido para me mostrar como é possível se divertir e esquecer dos seus problemas fazendo aquilo que vc mais gosta. O compromisso de acertar todas as seqüências e tempos da aula existe sim para todos, sensação, aliás, deliciosamente desafiadora. Então pq passar exata uma hora deitada num divã lamentando seus problemas (e gastando um dinherão ), se vc pode usar essa exata uma hora para trabalhar seu humor, exercitar sua cabeça e ainda dar uma melhoradinha no condicionamento físico?

Os terapeutas que me perdoem:

Eu recomendo sapatear para aliviar as tensões.


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